Roedor
Fazer as pazes com os ratos que ficaram, quando ninguém mais olhou por você, não é tão cruel assim.
O choro entalado na garganta é desprezado todas as manhãs, devido à urgência dos dias. Correr contra o relógio tornou-se um hábito bandoleiro, pois alguém sempre fica para trás. E, nesse emaranhado de incertezas, dores e arrependimentos que não deveriam nos atravessar, mas que, por alguma razão, devastam o peito, aquilo que ficou pelo caminho fere nossos pés, arrebentando a sola do sapato.
Ao entardecer, quando as nuvens se despedem genuinamente para conceder descanso, elas nos desprezam da mesma forma como desprezamos as lágrimas que deveriam ter germinado o chão. Não há criatura que aguente sem desaguar o pranto. E isso não é lamentação ou fraqueza; é cansaço, é um basta, é atenuar, é cessar fogo contra si mesmo.
Fazer as pazes com os ratos que ficaram, quando ninguém mais olhou por você, não é tão cruel assim. Eles até que são gentis e, quando não estão roendo as migalhas, enxugam suas lágrimas para que nenhuma gota deixe marcas no chão.
Evoé, com amor e sem ratoeiras
Tita Tuif